29 Oct 2022 Daniely Silva
Numa dessas anedotas que põem em dúvida a sabedoria humana, às portas de uma Zona Eleitoral, gritos enfurecidos rompiam a monotonia:
— Bolsonaro é Treze!
Como a comunicação humana é proporcionalmente limitada pela capacidade de incompreensão, pra não dizer ignorância, não muito tempo depois alguém já alegava defeito na urna eletrônica. Era uma fascista tropical de meia-idade se dirigia à mesária aos gritos fulminantes dos cabelos oxigenados que refulgiam ao Sol de outubro.
— Qual é o defeito na sua urna, senhora?, a mesária se espantava com o escândalo.
— Não aparece o Bolsonaro!
O policial militar à porta já encarava a mesária, que corria o risco de ser logo algemada por crime eleitoral se não medisse bem as palavras.
Discretamente, aproximou-se e viu as prateadas barbas operárias no visor. Era o candidato pernambucano.
— A senhora tem certeza que apertou o número do seu candidato?
— Claro, minha filha!, respondeu com aburguesada arrogância. O homem lá fora gritou que Bolsonaro é 13!
A expressão da mesária, ao ouvir isso, podia ter saído direto de uma esquete de Monty Python ou do Chespirito: a incredulidade estava escrita em seu olhar.
Mas, respirando fundo, olhou confiante para o militar que a vigiava atentamente, e disse com os pulmões cheios de ar:
— Se a senhora tem certeza do número, então pode apertar o verde.
A urna soava a melodia de confirmação, enquanto o Sol refletido nas algemas cegava as vistas da mesária. Mesmo ofuscada, era nítido seu sorriso de canto refletido pelo Sol.
— Te safou bem desta…, disse o militar guardando as algemas com um quê de frustração — Tava doido pra te prender.