Flor de plástico
Daniely Silva -
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Crônicas
reflexões
Poucas coisas no mundo são mais hediondas que uma flor de plástico. Lima Barreto dava esse troféu ao galo de rinha, mas ambos têm lugar no pódio, disputando com a figura do bolsonarista com diploma.
A rosa é uma das plantas mais bonitas que existe. Com aroma marcante, o seu simbolismo de estar presente na no casamento, no nascimento e no caixão a tornam ainda mais bela. Não é fácil cultivá-la, é um ser exigente: nem muito nem pouco Sol, nem muita nem pouca água, nem poda exagerada ou muito displicente. Já tentei!, tendo conseguido umas rosas amarelas que duraram pouco tempo e tiveram grande valor. Nem imagino o sufoco que os primeiros a domesticar essa maravilha devem ter passado há 5 mil anos nalgum ponto do Velho Mundo.
Já é difícil cultivá-la. Ao colhê-la para dar de presente, ela vai durar pouco. Em poucas horas o aroma se dissipa e a flor murcha, enquanto as pétalas escurecem. Botamos as rosas na água na intensão de que seu encanto sobreviva por uns dias, até que caia pétala por pétela do mesmo modo.
Esse é o ciclo esperado. Tanto trabalho para tão pouco tempo de encanto faz com que se valorize cada momento que a rosa nos oferece. Por isso é que há muita ousadia na flor de plástico, uma mera imitação vulgar.
Tão vulgar porque é feita em série numa fábrica com mão-de-obra parada em algum país explorado. Ela supõe durar pra sempre porque é falsa como o sentimento de quem a presenteou. Quando se desmanchar, ainda vai deixar microplásticos contaminando os oceanos e organismos da Terra por séculos. A rosa orgânica, por outro lado, ajuda a capturar o carbono gerado na produção vulgar da rosa de plástico.