7 jan 2025 - Daniely Silva Crônicas
O RSS sempre foi algo de nicho, sobretudo num tempo em que a própria internete era um nicho. Foi uma tremenda inovação em tempos de sites estáticos “artesanais” e de conexões lentas. Imagine reunir num só lugar todos os sites e blogues, eventualmente podendo descarregar o s conteúdos para ler diretamente no agregador sem se preocupar com a conexão.
Só que a adoção do protocolo foi interrompida pelas redes sociais modernas e, em parte, pelo encerramento do Google Reader em 2013. Só em parte, porque isso por si só não explica: havia outros serviços e, novamente, o Greader já tinha poucos usuários àquela altura. Recentemente, em 2024, o Google também encerrou o Google Podcasts, mas nem por isso o podcast vai morrer ou cair no esquecimento. Mania essa da empresa de acabar com agregadores! Ah, aproveito para resumir o que é um agregador: grossamente, ele vai até o site, busca o conteúdo e entrega pra você por meio de um protocolo; essa é a diferença para um podcast no Spotify ou um texto no Portal EBC: está tudo hospedado no próprio serviço. Atualmente meu agregador de feeds é o Feeder, mas já usei o ReadYou por mais de ano e sempre estou de olho nas atualizações; é um projeto independente e tem alguns bugs, mas é o mais bonito de usar que já vi. E meu agregador de podcasts é o AntennaPod, o qual passei a usar quando a Google quis me “obrigar” a escutar podcasts pelo YouTube Music.
Em todo caso, tenho minhas dúvidas se o RSS poderá deixar de ser um serviço de nicho e se tornar um de massa. Há atritos incorrigíveis (ou imutáveis, porque não são necessariamente um problema) para quem quer um consumo passivo. E aí é que está, ler por agregadores é um consumo ativo de informação. Ainda que não seja adotado pelo grande público, é valiosíssimo que seja resgatado como alternativa.
A grande diferença de hoje para os primórdios das redes sociais é que elas eram orientadas a feeds cronológicos. Fazia sentido, em certo aspecto, que substituíssem o RSS. Eu seguia as pessoas ou as páginas que gosto e veria isso; muito simples, aparentemente, mas a situação é outra hoje. Feed cronológico é algo que ficou no passado junto ao sonho de uma web que construiria um livre acesso à informação. Vivemos a guerra dos algoritmos. Uma guerra para decidir qual big tech tem o melhor e uma guerra das inteligências artificias contra a nossa capacidade de escolher.
A princípio, o algoritmo nas redes sociais parecia inofensivo: esse robô me ajuda a encontrar uma promoção ou um antigo amigo da faculdade. Mas deixou de ser infinito quando um feed infinito é artificialmente aprimorado para prender infinitamente nossa atenção, onde já mal vemos o que nossos amigos publicam. A União Europeia se ligou nisso e pensa impor restrições legais a esse tipo de arquitetura digital. Se isso já faz um estrago na cabeça do adulto, que dirá na criança e no adolescente — é imensurável!, só saberemos no futuro.
Talvez o protocolo tenha caído no esquecimento justamente por ser desinteressante aos olhos dos “donos da internete”: o tráfego não é rastreável e não se exigem anúncios, além, é claro, de dar a possibilidade ao usuário de estourar as correntes algoritmos e escolher o que vai ler. Apesar de não ser interessante a certos olhos, a boa notícia é que a maioria dos sites disponibiliza um feed RSS (ou Atom ou JSON, que são outros protocolos para o mesmo princípio). Acontece que geralmente não haverá um ícone identificando o ícone, mas ele estará escondido no código fonte, geralmente na forma site/feed ou site/feed.xml. Aí, basta copiar esse endereço e colar no agregador: pronto!, as novas publicações vão chegar pra acompanhar.
Isso fica levemente escondido mas é comum que nem o dono do site saiba disso, isso porque os mais populares Sistemas de Gestão de Conteúdo e Geradores de Sites Estáticos já embutem um feed por padrão. Embora pouca gente o uso, é vantajoso para o SEO tê-lo no código fonte, por isso não é comum que alguém o indisponibilize intencionalmente.
O protocolo RSS surgiu em 1999 Tempos depois, em 2005, veio o Atom, na proposta de modernizar a tecnologia. Mas a função é a mesma: reunir (agregar) num só lugar os conteúdos publicados periodicamente numa lista de sites à escolha do leitor. Lembrando que no texto inteiro em falo em RSS, que é o protocolo mais popular, mas o nome da tecnologia é Web Syndication, independente do protocolo.
Deu pra ver que parece simples — porque é! — mas os atritos existem. Tá tudo bem se nem todo mundo adotar, mas fico feliz em ver mais gente usando e alguns sites voltando a indicar o ícone. Em meio à farra dos algoritmos, é bom que pelo menos desta vez possamos escolher o que vamos ler e acompanhar tudo em ordem cronológica, sem que uma máquina me diga o que é mais importante o que vai ser esquecido. Às vezes, a inovação só nos dá a ilusão de escolha.