(Re)descobrindo a direção na autoescola

28 jan 2025 - Daniely Silva Crônicas

Nunca quis tirar habilitação, mas de uns meses pra cá me deu a louca e apliquei todo o meu 13º nisso. Ainda vou começar as aulas práticas, mas estou bem tranquila quanto ao que vai ser. Meu objetivo principal é ter a possibilidade de dirigir em viagens, mas também levo em conta ter uma CNH para o caso de me mudar para alguma cidade com transporte público precário. Não pretendo usar o automóvel no dia-a-dia — aliás, nem pretendo comprar um tão cedo. Apesar da pressa para terminar o curso prático antes do fim das férias da pós-graduação, quero aproveitar cada momento para aprender sem pressa. E vejo que há a possibilidade de não conseguir, ainda que dê o meu melhor. Se não passar nos exames finais, mesmo que tentando novamente, é porque não devo ser uma motorista (portanto, não pretendo ser extorquida pela máfia do quebra). É importante dizer que nunca encostei num carro, então vai ser tudo muito novo.

Há duas autoescolas no meu bairro, uma conceituada e outra nem tanto. Errei o endereço da conceituada e fui, de primeira, na outra. Saí de lá assustada! Duas falas forma decisivas pra que eu não fechasse o pacote: dado que o curso teórico era remoto e terceirizado, a repepcionista disse que se eu escolhesse o presencial, ia me arrepender (!); depois desse primeiro sinal vermelho, ela quis muito saber com o que eu trabalho, isso pra poder dizer que eu poderia deixar a aula rodando e nem precisava olhar, porque o que importa é só a presença e vou aprender mesmo é na prática (!!). Olhando as taxas de aprovação dessa autoescola no portal do Detran SP tive ainda mais certeza que fiz bem em não escolhê-la. Ao escolher a autoescola já respeitada, vi a diferença que faz escolher um CFC que leva a formação com seriedade, fazendo jus à sigla de Centro de Formação de Condutores.

Só que há um sentimento generalizado a desvalorização do curso teórico. Nisso eu me incluo, porque antes achava até interessante o PL 6485/2019, de autoria de Katia Abreu (PP-TO), o qual tirava a obrigatoriedade das autoescolas na formação de condutores. A impressão que eu tinha era que a autoescola era só um lobby pra arrancar dinheiro e que poderíamos aprender de outras formas mais baratadas. De fato, há autoescolas esquisitas e pilantras como a que visitei, mas isso não tira a necessidade de uma formação completa. E se há autoescolas envolvidas na máfia do quebra, é porque parte do Detran de cada estado também participa dessa maracutaia.

O exame teórico pra mim foi muito mais tranquilo que o psicotécnico. A prova em si é relativamente fácil, muito de interpretação. Sendo uma pessoa escolarizada dá até pra se virar e passar sem ter feito o curso teórico. Acontece que não vi o curso como só pra passar na prova: a troca de experiências, relatos, entender a legislação e as situações foi importantíssima. Não me sentiria segura pra pegar no volante sem as aulas que tive com uma instrutora tão foda.

O curso me ajudou a ter outra visão sobre o trânsito quando ando por aí, inclusive revendo minha consciência como pedestre nas ruas. Direção é coisa séria, um curso de 45 horas não é uma coisa de outro mundo, uma exigência absurda. Se o curso é de qualidade ou não, aí já é outra questão, mas não vejo como algo dispensável. A grande questão que permite tanta barbeiragem no trânsito não é falta de habilidade ao volante: é confiança demais e a falta de empatia e de cidadania, ao pensar que é o dono da rua.

Sempre achei muito esquisito o que falavam sobre indústria das multas, mas quando a gente começa a estudar no CFC, a gente vê é que existe muito mais vista grossa no trânsito: se a lei fosse aplicada, faltaria equipe fiscalizadora! Só que a instrutora ainda me deu outro olhar sobre isso: dizia ela que a autoridade que corrige o erro e não multa faz melhor que aquela que simplesmente multa e vai embora. É um moto de olhar a coisa, mas, se não dá pra aprender no amor, então que se aprenda na dor (e dor de bolso dói).