Traição em Cubatão
Daniely Silva -
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Poderia ser uma canção de Naiara Azevedo, mas aconteceu na velocidade em que vai o carro de uma mulher traída. Uma mulher brasileira desconfiada faz um trabalho de deixar com inveja até a Mossad, o famoso serviço secreto israelense que foi de caçador de nazistas a sabotador de telefones-bomba.
Nossa justiceira habita uma cidade encravada entre o Porto de Santos e a Paulicéia Desvairada: a cidade das mil chaminés. Cada chaminé de Cubatão equivale á extensa rede de espionagem montada em cada setor e em cada cota da cidade.
Numa noite quente, um chamado disparou nas proximidades da Cota 200, às 10 da noite. A espiã em questão era a própria dona do bar, Anjinha Véia (Anjinha Moça era a garçonete sua filha). Nossa justiceira injustiçada mal pegou o celular e já estava em seu vestido preto, com as chaves do carro em mãos. A mensagem era breve:
21:59h: Venha jar dona vilma que a panela vai ferve
A fumaça tóxica das chaminés se confundia com o canto dos pneus numa velocidade bem acima da permitida nas vias. 60 na pista de 40, 80 na de 60 e chegou a bater 110km/h na Anchieta, onde fez o retorno mais perigoso da sua vida. Nas multas, ela pensaria depois.
Era um espetáculo lúgubre. O cheiro a fuligem, de cachaça, de cerveja e o próprio cheiro da cidade. Nesse cenário, a fumaça que toma a cidade se confundiu visão turva provocada pelo álcool daquela multidão.
Mas o álcool que mais queimava era o etanol que movia velha Brasília de filme, o qual era nem sabia que poderia correr tanto. Ela também não tinha consciência de que poderia balizar tão bem: foi em segundos que conseguiu estacionar no meio da multidão dos integrantes da vida noturna.
— Que bonito, em! — foi com a frase clichê e o barulho do salto alto que esse mulherão de meio século surpreendeu o casal apaixonado.
Em seguida outros clichês: a ruiva o acusando por dizer não ter ninguém e ele se defendendo ao dizer que nunca vira aquela mulher na vida. Mas pra isso ela já estava pronta.
— E essa foto de nós dois juntos em Cananeia?
Ele se embaralhou na tentativa de justificar ao dizer que foi coisa de momento, de uma noite só, que mal se lembrava.
— Olha a data desta — ela, bem preparada, mostrou a data e ainda outras fotografias em datas e lugares diferentes — Entrem no carro agora. Os dois.
Entraram e seguiram em silêncio, sem saber aonde iam. A carreira era agora uma marcha lenta, despertador de ansiedade. Farol alto o tempo todo, logo iluminaram-se as vias as quais o homem adúltero reconheceu levarem à sua casa na Vila Nova Esperança.
Foi quando reconheceu o portão de sua casa que ele e a amante seguiram Vilma para dentro da casa, ainda paralisados.
— Dá pra notar que eu tenho as cópias das chaves.
Todos sentados na sala de estar, em silêncio, ela ordenou que ele fosse ao quarto e buscasse todas as roupas pertencentes a ela.
— Isso reforça que não foi só uma noite — ela declarava ao vê-lo atirar as roupas no sofá — Agora você já sabe a verdade, é escolha só sua se continuar com esse canalha. E você, venha ao carro porque tenho algo a lhe entregar.
— Uma sacola de plástico cheia de cinzas! O que isso significa?
— São todas as coisas suas que estavam lá em casa.