Daniely Silva

Silêncio dos rios que gritam


Encontro entre os rios Pinheiros e Tietê
Encontro entre os rios Pinheiros e Tietê. Ponte dos Remédios, limite Osasco-São Paulo.


São Paulo é uma cidade anfíbia, construída entre rios e sobre rios. Entre valas de concreto, jazem aprisionados sem crime algum cometido. Quando vêm as torrentes tropicais, relembram à metrópole sua existência, ocupando as ruas e preenchendo o vazio deixado pelo deserto de asfalto. Num grito silencioso, anunciam sua presença, tão ignorada pelo indiferente ronco dos motores.

Nas águas represadas para geração de energia, abastecimento e macrodrenagem, o povo hidro-carente encontra águas mais limpas e menos barreiras entre a água e a cidade, podendo se aproximar para nadar, pescar e navegar. Esse povo faz nos lagos artificiais das barragens o que sonha fazer nos rios, enquanto estes esperam o dia em que não serão mais abraçados por máquinas e autopistas, mas por gente. Aguardam em silêncio: no silêncio dos rios que gritam.

O "Silêncio dos Rios que Gritam" traz a diversidade dos corpos hídricos na metrópole de São Paulo nas áreas urbanas consolidadas e nas fronteiras de expansão. Documenta-se a degradação dos rios, enquanto são apresentados usos encontrados nas águas represadas, onde a população realiza a recreação que gostaria de ter nos rios, mas é impedida pelas condições sanitárias e barreiras urbanas que a impedem de aproximar-se da água.

A população, que antes dependia dos rios para recreação e trabalho, viu-se impedida de aproximar-se das águas pelas barreiras impostas: ferrovias e rodovias dispostas na planície aluvionar, verdadeiras cicatrizes urbanas que separaram a cidade de quem lhes deu origem. Um povo carente do contato com a água não perde a oportunidade de se aproximar da água das represas metropolitanas; construídas para abastecimento, geração de energia e controle de cheias, as represas Billings, Guarapiranga, Taiaçupeba e Paiva Castro são as de maior área inundada e, dada sua proximidades aos núcleos urbanos, as mais acessíveis. Nesses locais, vemos que, nessa Atlântida afogada em concreto, a população realiza nos lagos artificiais o que gostaria de fazer nos rios, mas é impedida não só pelas condições sanitárias, mas pelas barreiras que a separam dos leitos.

Ainda que degradados, os corpos hídricos impõem sua presença na paisagem. Se emparedados, inundam, se enterrados, alagam e, se confrontados, resistem. Mais que repositórios de biodiversidade e garantia de abastecimento, os rios são também fontes de cultura, pertencimento e territorialidades. Uma cidade que dá as costas aos seus rios está dando as costas à sua própria história.


Foz do Rio Tamanduateí no seu encontro com o Tietê.
Vista para o Rio Tietê com as marginais; ao centro, Ponte Estaiada Governador Orestes Quércia
Encontro dos rios Tietê e Pinheiros e Complexo Viário Heróis de 32 ao redor da ilhota Órion
Canal que forma o Rio Pinheiros com a fonte Friedriech Bayer ao fundo
Vista para o encontro entre os rios Jurubatuba e Guarapiranga desde a Estação Socorro
Curvas do Rio Tietê cercadas por matas ciliares em Santana de Parnaíba
Homens pescando na orla do braço Bororé da Represa Billings
Embarcações atracadas às margens da Represa Guarapiranga
Represa Taiaçupeba coroada pela Serra do Itapety e homens pescando dentro d'água