Daniely Silva
A Rua Guaicurus percorre o distrito da Lapa, na Zona Oeste da cidade de São Paulo. Na sua extremidade oeste, dá acesso à Estação Lapa da Linha 8-Diamante de CPTM, herdeira da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, onde se conecta ao Terminal Lapa; na extremidade leste, por sua vez, há a proximidade com a Estação Água Branca da Linha 7-Rubi da CPTM, que sucede a antiga Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, da inglesa São Paulo Railway.
A rua conta uma história de bairros operários e galpões fabris. Muitos desses antigos edifícios são hoje tombados pelos órgãos de proteção ao patrimônio, flertando com novos usos e com o abandono. Se a chegada das estradas de ferro nos séculos XIX e XX foram vetores de transformação que estimularam os loteamentos e a industrialização, hoje, numa economia de comércio e serviços, a expectativa da chegada da Linha 6-Laranja do Metrô gera a promessa de novos usos da terra urbana na Rua Guaicurus e nos seus arredores.
O mercado imobiliário é o primeiro a captar o recado. Por todos os lados, vemos novos edifícios sendo erguidos nas adjacências e na própria rua, quando não há restrição do tombamento. Esses novos empreendimentos pouco aparecem no projeto, porque não é sobre eles.
Uma cidade é feita de camadas. Como esses antigos espaços, que já passaram por tantos ciclos urbanos, vão dialogar com a cidade daqui pra frente? Vão se renovar ou estarão fadados ao abandono? Mais gente pode lhes dar mais vida, mas mais gente apressada pode passar sem se dar conta de que está atravessando as páginas de um enorme livro arquitetônico.
O tempo nos dará respostas, mas só se fizermos as perguntas corretas.
Soneto da Demolição
Dói o peito cada demolição
Mas é toda mudança
O lado de uma balança
Que pesa contra a estagnação
São impostos novos usos
O ancestral permanece
O que é velho perece
Depois de tantos abusos
Entre as paredes mofadas
Germinam novas histórias
Recuperam-se memórias
Das trajetórias passadas
Construímos nosso futuro
Derrubando cada muro
24 de julho de 2022