23 jan 2025 - Daniely Silva Crônicas
Discussão de ônibus pode durar uma viagem inteira. Aliás, se ninguém a interromper, pode durar até uma vida inteira.
Uma embarrada de mochila, uma porta fechada antes da hora, um mal entendido ou a simples loucura. “Dona, gire a catraca da próxima vez”, “Amigão, não dá pra descer pela frente porque tem fiscal ali”, e eis que explode um vulcão a dizer que o pobre trabalhador é um puxa-saco da empresa. Nesse caso de hoje, o motô apenas parou uns 15 ou 20 metros à frente do ponto. A idosa, e idosa de pernas boas, já entrou se queixando.
“Dona, tinha um carro parado atrás no ponto, não tinha outro jeito. A senhora me desculpe”.
Mas que adianta ser racional com doido, quando na verdade o remédio pra doido é outro doido. Pois isso torna quem discute com ele mais doido que o próprio doido. Quanto mais explicava, mais o motorista levava o nome de excomungado e de desgraçado, quando puxa-saco era o mais leve dos nomes.
Foi quando, não aguentando mais, parou na Avenida Dr. Arnaldo, mesmo fora do ponto de ônibus. Estavam em frente ao Cemitério do Araçá. — Por que parou, demônio?
— É pra senhora descer.
— No cemitério? Não vou descer aqui!
— É porque a senhora devia estar morta!